Seu bicho come mato?

horta do bicho

É comum presenciarmos nossos peludos comendo as plantas do quintal, dos parques, das floreiras…. que hábito é esse?  É uma necessidade?  É automedicação?  É uma sabedoria? Instinto?

Os estudiosos do assunto dizem que é um pouco de cada uma dessas coisas, mas muitas explicações ainda não foram decifradas e as questões ao redor desse hábito persistem e geram grande curiosidade por parte de tutores e cuidadores de cães e gatos.

Os sistemas enzimáticos digestivos dos cães e gatos sofreram adaptações no decorrer de longo tempo de domesticação e alterações na oferta de alimentos, variando desde as presas caçadas por seus ancestrais lobos e felinos do deserto, passando pelos primórdios de sua domesticação, pelos restos alimentares dos primeiros contatos com seus futuros cuidadores humanos, entrando na era dos alimentos industrializados e agora retornando aos bons costumes alimentares com comida caseira balanceada.

Durante todo esse processo de adaptação digestiva, fisiológica e de manejo, esses peludos sofreram uma pressão adaptativa que lhes proporcionou habilidades de sobrevivência dentre as quais a de selecionar e utilizar plantas, raízes, solos e insetos com propriedades medicinais para tratamento e prevenção de doenças.

Essa habilidade própria de cada espécie em especial recebeu o nome de Zoofarmacognosia. O termo quer dizer zoo = animal; fármaco = medicamento; gnosia = saber, e compreende uma capacidade de compreensão cognitiva de potenciais medicamentos em seu meio ambiente.  Este termo também tem sido aplicado na aromaterapia com animais, onde são os próprios pacientes que escolhem o aroma do óleo a ser utilizado durante as sessões.                                                                                                                                                                                                                                                                                                             Desde tempos muito remotos o homem observa os animais buscarem a auto cura na ingestão de plantas, insetos, raízes, sementes, flores, frutos, algas e solos no seu habitat natural e promoverem a melhoria de sua saúde de forma natural e simples, inclusive aprendendo muito sobre essas formas naturais de cura e as utilizando para a própria espécie humana. Os compostos medicinais secundários encontrados em tais materiais não oferecem valor alimentar na forma de proteínas, carboidratos e amidos e apresentam em grande parte das vezes um gosto amargo e pouco ou nada agradável e atrativo para um animal que se encontre saudável.

 

E ENTÃO PORQUE OS CÃES E GATOS COMEM MATO?

Explicar os porquês de um animal doméstico comer alguma gramínea, raíz ou componentes ambientais diversos como insetos e solos não é uma tarefa fácil e tampouco existe um consenso entre os estudiosos do assunto, mas vamos tentar entender essas possibilidades:

AUTOCURA

A primeira explicação esta diretamente ligada à capacidade cognitiva de identificar no ambiente, substâncias que possam manter a saúde ou ajustá-la de acordo com sintomas e sinais apresentados pelo individuo. É fácil observar, por exemplo, a necessidade de ingerir grama quando existe um desconforto gastrointestinal e logo depois ocorrer o vômito e observar-se uma evacuação com a planta ingerida, sem ser digerida, junto com vermes ou muco. Normalmente as plantas ingeridas em circunstâncias de desconforto ou doença, são diferentes das ingeridas em seu dia a dia quando o animal encontra-se bem.

PREVENÇÃO DE DOENÇAS

A ingestão de fibras aumenta o bolo fecal, retêm água nas fezes e as mantêm mais macias e fáceis de serem esvaziadas. Algumas raízes contêm prebióticos que auxiliam na manutenção da microbiota intestinal, alimentando bactérias e leveduras do bem que auxiliam no processo digestivo, captação e absorção de nutrientes, melhorando a imunidade e a saúde como um todo.

Algumas substâncias químicas amargas ou adstringentes em algumas gramíneas e ervas chamadas daninhas ou inços, como por exemplo, o dente de leão (Taraxacum officinalis), apesar de serem menos palatáveis, ajudam na manutenção da função digestiva saudável, inclusive com ação vermífuga auxiliando  no controle das populações de vermes intestinais.                             Alguns germinados e brotos também apresentam a capacidade de alcalinizar o ambiente do tubo digestivo e do organismo em geral, melhorando as funções orgânicas como um todo.

COMPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL

Estudiosos do assunto relatam que a ingestão de gramas, insetos, solos e raízes pode ter um componente nutricional associado, na tentativa de complementar uma alimentação deficiente em um ou outro nutriente ou uma fase fisiológica ou doença que requeira um ou outro nutriente a mais do que de hábito. Rações pobres em fibras são um exemplo.  A geofagia, que é o hábito de ingerir terra, pedras e rochas, é sugerida como uma ferramenta para manter ou ajustar o pH do intestino , atender às exigências nutricionais para traços minerais , satisfazer a necessidade de sódio e desintoxicar o organismo.

PRAZER QUE VIRA HÁBITO, QUE EXTRAI O LÚDICO

Isso mesmo, puro prazer e eles adoram pastar, escolhem sempre a mesma graminha do jardim ou do parque por onde passeiam, buscam sempre a mesma salada. Dessa busca nos quintais e parques ainda conseguem extrair o lúdico, jogar, fugindo do tédio e afastar o estresse. O sabor, a textura, o cheiro, tudo tem que agradar aos sentidos, aqui a busca não é por medicamento ou solução de desconforto, é puro prazer e descontração, é a SALADA PREDILETA! Nem todos tem esse hábito, é particular, pessoal, assim como outras preferências! Algumas sementes são comercializadas para esse fim, para serem plantadas em um vaso, floreira ou canteiro. São sementes sem aditivos químicos, venenos ou coisa que o valha

ALGUMA CONTRAINDICAÇÃO EM INGERIR MATO NOS PASSEIOS?

A meu ver sim, já que as prefeituras e condomínios costumam utilizar adubos químicos e pesticidas em canteiros, jardins e parques. Dessa forma, ao comer um matinho numa área desconhecida, sem saber que tipo de insumo ou veneno foi utilizado ali, não esquecendo dos resíduos da poluição dos grandes centros urbanos que se depositam sobre os solos, acabamos por permitir mais uma forma de sobrecarga nos sistemas de detox orgânico, especialmente fígado e rins. Da mesma forma que devemos nos preocupar cada vez mais com os vegetais que comemos no Brasil devido a liberação de agrotóxicos feita nos últimos anos pelo governo atual, inclusive de substâncias sabidamente carcinogênicas, também temos que nos preocupar com os espaços públicos repletos desses itens associado ao fato de que nossos pequenos e peludos amigos estão muito mais próximos do chão do que nós e portanto inalam mais vapores tóxicos, além de não usarem sapatos, rolarem na grama e se LAMBEREM!!!!

Portanto, apesar dos apelos que fazemos para que os bichos tenham vida de bicho, que possam explorar, cavar, rolar, farejar e escolher seus matos favoritos, temos que cuidar para não acabarmos facilitando mais intoxicações diante dessa realidade

E QUE ATITUDES PODEMOS TOMAR ENTÃO?

Algumas sugestões:

– Assine todos os abaixo assinados que combatem a PL dos Venenos, apoiem e divulguem ações coletivas que visam a redução do uso e liberação de agrotóxicos, como a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos 

– Questione a administração do seu condomínio quanto aos itens utilizados nos espaços coletivos para matar pragas e também os insumos como adubos e fertilizantes químicos

– Não use “mata matos” e insumos tóxicos no seu jardim – busque opções naturais para esses fins

– Ofereça ervas, verduras, brotos e germinados orgânicos como complemento alimentar para os seus bichos com intuito de suprir as necessidades de fibras que muitos tem em função de uma dieta exclusivamente ultra processada

– Faça uma horta caseira orgânica e alimente todos os membros da sua matilha com ervas e verduras frescas e saudáveis – mesmo em apartamentos isso é possível com as hortas verticais, pesquise!

– Limpe as patas e o corpo dos bichos na volta dos passeios conforme a exposição ambiental tóxica que sofreram

Dessa forma protegeremos nossas famílias interespécies e ajudando nosso país a sair desse caos!

Aguarde novas postagens com o tema “Horta do Bicho”

Lunna “in memoriam”

2 comentários em “Seu bicho come mato?

  1. Adair Fonseca Trindade Vittorassi Responder

    Bom dia.
    Nunca tinha encontrado um site para chamar minha atenção que falasse deste assunto. Sou nutricionista e apaixonada em alimentação natural, assim surgiu o interesse em conhecer sobre alimentação e medicação natural canina. Porque tenho um dog muito sensível que sempre torço o nariz quando passam medicamentos que sei que podem causar intoxicação e patologias dependendo da sensibilidade do animal. Parabéns pelo blog!

    • vetcarmen Autor do postResponder

      Grata pelo comentário Adair. Trabalhamos com dietas naturais para cães com resultados muito importantes assim como na nutrição humana Grande abraço

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